segunda-feira, 13 de abril de 2015

Intra corpórea

Meus olhos se fecharam lentamente. Era para estar em um lugar que eu me sentisse segura. Primeiramente pensei em ir para a minha antiga casa, onde cresci. Mas depois, imediatamente estava em um Teatro. Um grande teatro. Não sei o real motivo. Devo ter ido ao Teatro pouquíssimas vezes na minha vida, mas naquele momento era como se fosse frequente a minha ida até lá. 
Estava todo apagado e tinha apenas uma grande luz branca sobre mim. Comecei a dançar. Movimentos leves e sem destino. Em volta do corpo, em volta do eixo, no chão. Eu dançava juntamente ao chão com uma música clássica, bonita, mas nunca havia ouvido antes. Porém, era perfeita para aquele momento. Aquele momento também perfeito. Olho para frente e vejo um grande espelho de madeira. Olhei-me fixamente para o espelho e dancei para ele, como se estivesse dançando para mim mesma. E estava! Dançava para descarregar, dançava para me libertar, acabar com as dores físicas e psicológicas. Minha mente dançava com o meu corpo. Eu não sorria. Apenas sentia o chão de madeira dançando comigo e com o espelho, o grande espelho que me olhava. 
A despedida foi dolorosa, pois uma hora a música acabou e precisei partir. Cada segundo restante eu gritava: NÃO! Mas ninguém me ouvia, até que uma lágrima teimosa desceu de meu rosto e logo secou.
Demorou algum tempo até eu conseguir voltar. Sim, parece que sempre vou voltar ao mesmo Teatro. Estava nua, completamente sem vestimenta. Fazia movimentos leves, ondulados. Novamente o espelho surgiu, mas dessa vez, não dancei para ele. Conforme eu dançava, meu corpo pedia mais e mais e mais movimento. O chão tornou-se limitado demais para meu corpo, para a minha mente. Então flutuei, uma água aérea. Meus cabelos compridos voavam lentamente em meu corpo e ao entorno da minha cabeça, movimentos aquáticos. Agora, não estava mais nua, uma bela manta rosa-perolado estava entornando meu corpo, deixando poucas partes desnudas à mostra. Agora eu sorria, conseguia fazer todos os movimentos que meu espírito pedia. Até que flutuar também ficou limitado, peguei embalo e voei. Voei mais alto, dando a volta completa pelo Teatro escuro, e por onde eu passada com minha bela vestimenta rosa perolada de seda, as luzes se acendiam e mostravam toda a beleza de milhares de cristais me aplaudindo. Tudo era música. Tudo era espírito. Eu estava feliz, voando, flutuando, nadando em mim mesma ao som de minha música interior. Music Child. Conseguia sentia a macieis dos meus cabelos dourados, iluminados pelas luzes dos cristais ao redor do imenso salão Teatral. 
Até que precisei me recompor. Estava liberta, suave, tranquila, feliz. Olhei para meu reflexo no espelho e sorri, pensando em como seria a próxima visita ao meu Teatro Interior.


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